19 de abril de 2010

smalltown agonist



a boa notícia é que, mesmo sem saber onde vivo, a Carla Bley escreve sobre o sítio onde vivo.

18 de abril de 2010

The Lord Is Listenin' To Ya, Hallelujah!





por exemplo, a Carla Bley não faz a menor ideia do sítio onde eu vivo.

é uma porra, mas ninguém disse que a vida é justa.

17 de abril de 2010

nem biografia nem autorizada


Pelo já invocado, vi, com o atraso que me compete, a notícia da morte de Malcolm McLaren no passado dia 9. E por prosaicas razões de assalariada-mãe-atarantada-chateada-com-o quotidiano-em-geral-e-com-o-país-em-particular, escrevinho agora e é se querem, que a minha vida não é isto...

Verifico na net que continua disponível o contacto
MALCOLM   MCLAREN
Malcolm will return shortly...


To contact Malcolm McLaren, email: office@malcolmmclaren.com


... o que torna o moço tão compassado quanto eu e lhe atribui uma ubiquidade (ou uma invulgar capacidade de resposta aos seguidores) próxima da de Deus.
Duvido é que Deus transformasse uma antiga sex shop numa loja de roupa shocking e albergasse no seu (da loja, não dEle) no seu interior rapaziada capaz de cuspir blasfémicos god shave the queen. O agora perecido dizia com justeza que era “more magician than musician”.

Nascido em Londres em 1946 e criado por uma avó abastada e parece que não abastardada, ainda Malcolmzito frequentou mais de dez escolas de artes, em todas causando sururu com as suas extravagâncias. Com este curriculum de pesquisa sociológica e muitas idas ao Principal de serviço, não admira que se pusesse a ler os situacionistas. Mais cedo ou mais tarde, lá nos sai na rifa bibliográfica.

Estava ele a caminho do Maio de 68 em Paris, quando outra pendência lhe salta às canelas e eis que fica a ocupar uma escola em Croydon. (Por acaso, tive um badge que ostentava sob fundo de camuflado um desafiante "Welcome to Croydon!" — o equivalente a algo como "Bem-vindo a Coselhas!” ou "Bem-vindo à Baixa da Banheira!" Imaginação ao poder e paz na terra entre os homens de boa vontade. Talvez não por acaso, algum anónimo apreciou particularmente aquele sábio dizer e o badge passou à lista dos desaparecidos em combate. É natural. É a circulação dos bens culturais.)

Chegou pois atrasado a Paris, sobrevivendo com bonomia àquela inveja inglesa em relação aos franceses que a essa hora faziam barricadas nas ruas, lançavam cocktails para dentro das lojas, viravam carros e esventravam as ruas ocupadas e armadilhadas. Curiosamente, como diz Milos Forman chegado a França para as festividades de Cannes, andavam uns a tentar erguer a bandeira vermelha no centro da Europa, enquanto outros tentavam derrubá-la do lado de lá, em Praga. Esquizofrenias do zeitgeist...

Na década de 1970, regressado dos States a Londres já maduro e manager, eis McLaren com a não menos surpreendente namorada Vivienne Westwood abrindo a célebre loja Sex. Tinha ele tido a epifania da época: é mais importante a atitude do que o som. Vai daí, inventou os Sex Pistols, transformando John Lydon em Johnny Rotten, mais uns alfinetes, mais umas camisolas rasgadas, mais umas performances, umas artes plásticas, umas popalhadas bem embrulhadas e apimentadas, uma coisa leva à outra e por aí fora (estou a adoptar o método narrativo Vueling, não sei se dá para perceber).
Mitómano, manipulador, McLaren fez da Sex um ponto de encontro de punks, proto-punks, artistas, proto-artistas e provocadores em geral.
Os Pistols duraram dois anos e mudaram muito coisa. Outros tão ou mais importantes para a música se lhes seguiram. McLaren fará incursões na música, partindo de um princípio ergonómico e pop— “Roubo as canções de outras pessoas e tento melhorá-las". Recorrente na pop art ou, como dizia o outro, da "poupar-te". Aqui literal e ecologicamente.

Malcolm McLaren deixa um filho, Joseph Corré, fruto da sua relação com a estilista Vivienne Westwood. Corré é um dos fundadores da marca de lingerie Agent Provocateur, despida por muitas celebridades, exposta em anúncios controversos e exibida como high-end lingerie, ou seja cara como o catano, embora se desconheça a cotação do catano. Por sinal, quando li high-end lingerie pensei que era roupa interior para trazer por fora, o que não deixava de ser uma ideia exibicionista d' agent provocateur. Afinal é só micro roupa macro cara.

Voltando aos Pistols: se ainda hoje usamos gel no cabelo é muito mais por causa deles do que dos rockabilly. Aliás, os rockabillys usavam brilhantina e não gel. Quando muito, concedamos que a brilhantina fosse um gel in nuce. A ideia estava lá, mas a consistência ideológica não. E, de resto, quem é que hoje usa brilhantina? Comparem com o número de marcas de gel em qualquer supermercado...

Sei que o rapaz McLaren abandonou as escolas de arte por preferir “ser um falhado extravagante do que ter um sucesso benigno”.
“E tinh’rrazão...”

13 de abril de 2010

contra-informação de referência


Ouço com frequência "Vinha no jornal de hoje, não viste?" e apetece-me responder com a verdade: "Não, não li. Não leio jornais todos os dias. Não se aprende grande coisa com os jornais. E mesmo quando leio, é sempre com moderação e às colheradas."
De facto, leio o jornal de hoje, amanhã e depois de amanhã e os de fim-de-semana, duas ou três semanas mais tarde. Deve ser por esse defeito de anacronismo que também não sei ler revistas. Na realidade, até acho que não tenho a noção de revista. Leio tudo como se fosse literatura ou ensaio, com sublinhados, pausa para reflectir, citações e este processo aplicado a jornais e revistas revela-se uma canseira e uma corrida inglória contra o tempo.
Por isso, senti um certo conforto quando no sábado, uma amiga, num raro momento de silêncio do jantar, lança a dúvida para a mesa: "Quem não tenho visto aparecer ultimamente é a Rainha-Mãe. Sabem se está doente?"
Ao que todos em coro: "A Rainha-Mãe morreu praí há três anos!..."

E garanto-vos que a amiga é das pessoas mais informadas que conheço.
Mas tinha saltado aquele capítulo e a Rainha-Mãe ficara-lhe suspensa no tempo, agarrada à sua capeline estival e à chávena de gin como um tónico essencial na taxidermia.


flower power


Mrs. Dalloway said she would buy the flowers herself

terapia de substituição


oh jim!
mortal sin of rationality.

como usar um fato cinzento de forma colorida



Kim as Judy as Madaleine


o que o cão tinha de estranho era o facto de não ladrar, meu caro Watson.

9 de abril de 2010

generalife (uma espécie de senhor de matosinhos)




"Ay mare!
que me perdio
no hay quien me
lleve a mi casa
yo vivo en el
Albayzin, orilla
la plaza larga
y enfrente del
cafetin."

además


nuestra penin


Granada, Cristo de los Gitanos

Na semana da Páscoa atravessei em vários sentidos a Península Ibérica. De avião, comboio, táxi e muito calcante. As companhias aéreas de quatro viagens variaram. E com elas, a conversa.
Sento-me no meu lugar e ouço uma voz de timbre bem castelhano apresentar olimpicamente a Ibéria como a “companhia que representa oficialmente Espanha na União Europeia”.
Quando passo para a Vueling, a saudação da aeromoça é hilariante:

“Hola! Bienvenidos a bordo de este vuelo de la compañia Vueling, la primera compañia aérea europea de nueva generación (!!!). Os voy a presentar a mis compañeros: Paqui (comandante), Pepi (su-comandante) Loli, Chavi (azafatas)...” e por aí adiante.

A seguir, fala o respeitável comandante Paqui:

“Hola! Bienvenidos! Os voy a dar unos datos del vuelo. Estamos a nueve mil metros de altidud, más ou menos. El viento nos viene de cara y, como tal, tardaremos en llegar un poco más. La temperatura em Madrid es excelente, muy buena y no hay nubes. Es lo que hay y así están las cosas. Eso es todo por ahora. Ya os volveré a hablar.”


es lo que hay...