22 de outubro de 2011

e sobretudo não bebam moët et chandon de estômago vazio



estou nesta vida provisória sabendo que não há outra como o poeta

que vinha para a vida e deram-lhe dias

eu vinha para os dias e tive horas

odiava o tempo detergente

eu atropelo a mãe que vai de mota e a criança nascida das costas dela

salta contra o muro da minha prisão, esmaga o crânio

levanta-se atordoada como um filme do david lynch que é tarado

mas pelos vistos conhece bem a cabeça dos homens

se assim é fugirei deles porque temo sociopatas de celuloide


a criança esfrega o joelho e diz a chorar que o pé direito não mexe

sempre com o mesmo erro ortográfico agarrado ao pé


a criança já era feia antes de eu saber

vem de um bairro onde a mãe diz que se alojam famílias cadenciadas


o líquor escorre pela face

a pia-máter, a mais elegante das meninges, treme

como se um fungo extraterrestre a ameaçasse


de repente penso que posso ter um ataque de hipotermia ou de fotofobia

qualquer coisa que seja um pouco mais metafísica do que meninges

olhando para mim como lábios humanos


a mãe cambaleia arrastando a criança

e diz-me

“tinha posto um anúncio de «vendo porquinho-da-índia de pêlo raso»”

8 de outubro de 2011

provavelmente

o canto do carrasco



Já todos leram o cartaz, mas provavelmente ainda nem todos ouviram o rapaz:

warning sign


Pronto, ok. Já que tanto insistem, eu conto.
No último domingo acordei às 11 da manhã, deitada na minha cama, com o sol a dar-me na cara. bem aprumadinha que estava: vestida tal como saíra na noite anterior, as sandálias alinhadas com as unhas corretamente pintadas, vestido caindo direito e sem uma ruga, écharpe pelos ombros a tapar decentemente o decote, brincos avantajados a incomodarem um pouco os lóbulos esmagados contra a almofada, com uma garrafa de água na mão e a carteirinha Prada (fake) bem segura no antebraço. Tudo impecável.
Já me tinha acontecido acordar semivestida da noite da véspera, mas de garrafinha na mão e Prada em riste é um grande salto tecnológico em frente.

Digo eu.

7 de outubro de 2011

puzzlin' evidence


estão a ver aquela manobra básica de sobrevivência: ligar do fixo para o móvel para o localizar algures em casa, debaixo de uma almofada, já na carteira, afinal pronto para sair, esquecido na casa de banho, etc...
pois há uma horas ia a sair, calmamente, apenas para comprar o jornal em papel apesar de já o ter lido parcialmente na net.
bom: chaves, dinheiro, identificação (velho hábito), telemóvel, telemóvel... falta o telemóvel. corro os locais mais prováveis da casa e nada. lá vou eu, já de carteira enfiada no braço e chave já engatilhada na porta, buscar o fixo pra ligar pró móvel, pondo o ouvido atento à gêpêessecização.
até saltei de susto com o som...
sabem onde é que estava o telemóvel?
no final da minha outra mão, da que não segurava o fixo.

mas se vos contasse o que me aconteceu na manhã do domingo passado...

se tiver muitos pedidos nos próximos três dias, lá terei de contar.

6 de outubro de 2011

1 de outubro de 2011

pride and prejudice


ligo a tv e fico estarrecida. nunca pensei citar o alberto joão: "só quem dorme comigo é que sabe se eu estou bem..."

os deuses ou as hormonas devem estar loucos.
ou será da griffe do equinócio?

bom, vou trabalhar que a troika não dá pão.