1 de julho de 2012

20 de novembro de 2011

Pansexuais, mais um esforço se quereis ser qualquer coisa! (ou trends sexuais de Marx a Marcuse)



Uma noite destas apercebi-me que há uma série sobre lésbicas escocesas.

Primeiro comentei isso com pessoas que sabem Língua Gestual Portuguesa e que me disseram logo que o gesto para lésbica não é muito bonito. Para escocês, vá-se lá saber porquê, ainda é pior. Os dois juntos... bom, é melhor nem explicar.

Depois perguntei a um amigo gay e muito dado aos estudos celtas (variante celtibero) se o grau de especificação, quero dizer, de sexualidade e nacionalismo, já ia assim tão no adro.

Ele esclareceu logo: “Fica sabendo que o que verdadeiramente está a dar são os intersexuais bretões!”

Fui então aprofundar a coisa (ou seja, dei uma olhadela nos estudos aleatórios da wikipédia) e verifiquei que há uma escala de Benjamin — não o Walter, mas o Harry, embora também não fosse má ideia estabelecer uma escala de dependência e de orientação do Walter. Não, aqui trata-se do Dr. Harry Benjamin que criou uma escala de orientação sexual (a Harry Benjamin Sexual Orientation Scale — S.O.S., imaginem!) nos anos 60, na sequência dos estudos do célebre e hollywoodado Alfred Kinsey. O Dr. Benjamin começou por estudar a tuberculose e acabou oximoricamente como pioneiro na investigação sobre a transsexualidade, o que representa um verdadeiro reviralho clínico. A escala que propôs vai de 1 a 6, ou seja, do pseudo travesti (uma espécie de Ed Wood agarrado ao seu gilezinho de angorá) ao transexual de alta intensidade (ficamos logo a pensar em postes de alta tensão implantados ao lado de aldeias indefesas).

O que me intriga na escala, quero dizer, o que mais me intriga, são os graus intermédios: como é costume, o termo médio (e nédio) é sempre o mais problemático. Calculem vocês (estou mesmo a ver-vos agarrados à calculadora sexual numa manhã de domingo) que o grau 4 reza (é uma forma de dizer) assim: “predominantemente homossexual, mas mais do que incidentalmente heterossexual” enquanto o grau 5 se destina a quem é “predominantemente homossexual, mas incidentalmente heterossexual”. Quem ficar ali entalado entre o “mais do que” e o grau zero da comparação está feito ao bife (ao bife?! – que digo eu?! e se for “predominantemente” vegetariano e só “incidentalmente”, sei lá - no natal e em sextas feiras 13, homnívoro, digo, omnívoro? ou mesmo mnívoro?).

Estas subtilezas deixaram-me ontologicamente encalacrada e sexualmente de queixo caído (interpretem como quiserem). Em suma, é muito dasein prá minha carruagem...

Moral da história ou conclusões preliminares (como dizia um que eu cá sei):


1) Títulos como Masculino/Feminino de Jean-Luc Godard são, como suspeitava, da Vieille Garde.

2) Depois das lésbicas escocesas e dos intersexuais bretões, ficarei melancolicamente à espera de uma série, um colóquio ou, melhor ainda, de uma visita de metrossexuais assírios.


Mas, pra dizer a verdade, já me contentava com eletrodomésticos que não avariem...

22 de outubro de 2011

e sobretudo não bebam moët et chandon de estômago vazio



estou nesta vida provisória sabendo que não há outra como o poeta

que vinha para a vida e deram-lhe dias

eu vinha para os dias e tive horas

odiava o tempo detergente

eu atropelo a mãe que vai de mota e a criança nascida das costas dela

salta contra o muro da minha prisão, esmaga o crânio

levanta-se atordoada como um filme do david lynch que é tarado

mas pelos vistos conhece bem a cabeça dos homens

se assim é fugirei deles porque temo sociopatas de celuloide


a criança esfrega o joelho e diz a chorar que o pé direito não mexe

sempre com o mesmo erro ortográfico agarrado ao pé


a criança já era feia antes de eu saber

vem de um bairro onde a mãe diz que se alojam famílias cadenciadas


o líquor escorre pela face

a pia-máter, a mais elegante das meninges, treme

como se um fungo extraterrestre a ameaçasse


de repente penso que posso ter um ataque de hipotermia ou de fotofobia

qualquer coisa que seja um pouco mais metafísica do que meninges

olhando para mim como lábios humanos


a mãe cambaleia arrastando a criança

e diz-me

“tinha posto um anúncio de «vendo porquinho-da-índia de pêlo raso»”

8 de outubro de 2011

provavelmente

o canto do carrasco



Já todos leram o cartaz, mas provavelmente ainda nem todos ouviram o rapaz:

warning sign


Pronto, ok. Já que tanto insistem, eu conto.
No último domingo acordei às 11 da manhã, deitada na minha cama, com o sol a dar-me na cara. bem aprumadinha que estava: vestida tal como saíra na noite anterior, as sandálias alinhadas com as unhas corretamente pintadas, vestido caindo direito e sem uma ruga, écharpe pelos ombros a tapar decentemente o decote, brincos avantajados a incomodarem um pouco os lóbulos esmagados contra a almofada, com uma garrafa de água na mão e a carteirinha Prada (fake) bem segura no antebraço. Tudo impecável.
Já me tinha acontecido acordar semivestida da noite da véspera, mas de garrafinha na mão e Prada em riste é um grande salto tecnológico em frente.

Digo eu.

7 de outubro de 2011

puzzlin' evidence


estão a ver aquela manobra básica de sobrevivência: ligar do fixo para o móvel para o localizar algures em casa, debaixo de uma almofada, já na carteira, afinal pronto para sair, esquecido na casa de banho, etc...
pois há uma horas ia a sair, calmamente, apenas para comprar o jornal em papel apesar de já o ter lido parcialmente na net.
bom: chaves, dinheiro, identificação (velho hábito), telemóvel, telemóvel... falta o telemóvel. corro os locais mais prováveis da casa e nada. lá vou eu, já de carteira enfiada no braço e chave já engatilhada na porta, buscar o fixo pra ligar pró móvel, pondo o ouvido atento à gêpêessecização.
até saltei de susto com o som...
sabem onde é que estava o telemóvel?
no final da minha outra mão, da que não segurava o fixo.

mas se vos contasse o que me aconteceu na manhã do domingo passado...

se tiver muitos pedidos nos próximos três dias, lá terei de contar.

6 de outubro de 2011