9 de maio de 2010

el desierto


Continuamos a conduzir, a comer e a falar,
avançamos no escuro, folhagem dentro.
Desabou mais um homem, um cartão que ruiu,
paramos um instante
olhamos de lado seguimos adiante.
Com a mão no volante
cantilena mental
avançamos entre o verde e a espessura da noite.

Um rapaz tresmalhado regressa a Beirute,
vindo dos massacres, sacode o olhar
a cidade continua
a poeira é a mesma
dança e bebe no interior da guerra.

Estamos todos em guerra mesmo sem guerra.
À medida que uns tombam, vacilamos e seguimos.
Ajeitamos a mortalha contra a brisa nocturna
e persistimos na frente.
O caminho não espera, o tempo decresce.

Em Beirute ou Little Indian todos vão cair
Antes de nascermos já estamos em guerra

Por vezes uma pausa
e logo prosseguimos.
Mais um comprimido contra o medo.
É certo que vamos cair.
Trituramos legumes,
na sopa boiam dedos.

Instalados para a morte lemos a guerra nos jornais

Avançamos na folhagem, avançamos no medo.
Caminhamos seguros, pisamos fragmentos.
Escrevemos e amamos, triturados por dentro.
As ogivas na praia, as ruas estilhaçadas.
A cabeça no deserto, as mãos a descoberto.

Toda repetición es una ofensa
Y toda supresión es un olvido


Quantas vezes morremos até descansar?