Uma noite destas apercebi-me que há uma série sobre lésbicas escocesas.
Primeiro comentei isso com pessoas que sabem Língua Gestual Portuguesa e que me disseram logo que o gesto para lésbica não é muito bonito. Para escocês, vá-se lá saber porquê, ainda é pior. Os dois juntos... bom, é melhor nem explicar.
Depois perguntei a um amigo gay e muito dado aos estudos celtas (variante celtibero) se o grau de especificação, quero dizer, de sexualidade e nacionalismo, já ia assim tão no adro.
Ele esclareceu logo: “Fica sabendo que o que verdadeiramente está a dar são os intersexuais bretões!”
Fui então aprofundar a coisa (ou seja, dei uma olhadela nos estudos aleatórios da wikipédia) e verifiquei que há uma escala de Benjamin — não o Walter, mas o Harry, embora também não fosse má ideia estabelecer uma escala de dependência e de orientação do Walter. Não, aqui trata-se do Dr. Harry Benjamin que criou uma escala de orientação sexual (a Harry Benjamin Sexual Orientation Scale — S.O.S., imaginem!) nos anos 60, na sequência dos estudos do célebre e hollywoodado Alfred Kinsey. O Dr. Benjamin começou por estudar a tuberculose e acabou oximoricamente como pioneiro na investigação sobre a transsexualidade, o que representa um verdadeiro reviralho clínico. A escala que propôs vai de 1 a 6, ou seja, do pseudo travesti (uma espécie de Ed Wood agarrado ao seu gilezinho de angorá) ao transexual de alta intensidade (ficamos logo a pensar em postes de alta tensão implantados ao lado de aldeias indefesas).
O que me intriga na escala, quero dizer, o que mais me intriga, são os graus intermédios: como é costume, o termo médio (e nédio) é sempre o mais problemático. Calculem vocês (estou mesmo a ver-vos agarrados à calculadora sexual numa manhã de domingo) que o grau 4 reza (é uma forma de dizer) assim: “predominantemente homossexual, mas mais do que incidentalmente heterossexual” enquanto o grau 5 se destina a quem é “predominantemente homossexual, mas incidentalmente heterossexual”. Quem ficar ali entalado entre o “mais do que” e o grau zero da comparação está feito ao bife (ao bife?! – que digo eu?! e se for “predominantemente” vegetariano e só “incidentalmente”, sei lá - no natal e em sextas feiras 13, homnívoro, digo, omnívoro? ou mesmo mnívoro?).
Estas subtilezas deixaram-me ontologicamente encalacrada e sexualmente de queixo caído (interpretem como quiserem). Em suma, é muito dasein prá minha carruagem...
Moral da história ou conclusões preliminares (como dizia um que eu cá sei):
1) Títulos como Masculino/Feminino de Jean-Luc Godard são, como suspeitava, da Vieille Garde.
2) Depois das lésbicas escocesas e dos intersexuais bretões, ficarei melancolicamente à espera de uma série, um colóquio ou, melhor ainda, de uma visita de metrossexuais assírios.
Mas, pra dizer a verdade, já me contentava com eletrodomésticos que não avariem...