27 de novembro de 2009

imoralidade da História


O bolo-rei
O bolo-rei tomava-se muito a sério. Não havia discussão: ele era o rei dos bolos.
Como tal, quando lhe caiu uma passa da coroa, ordenou ao bolo-inglês:
— Traz-me essa passa de volta.
O bolo-inglês fez-se desentendido e respondeu:
— Sorry! I don’t understand...
O que queria dizer, na língua dele, que pedia desculpa, mas não tinha entendido.
Então, o bolo-rei virou-se para um bolo de natas e deu a mesma ordem.
Queria, outra vez, a passa a ornamentar-lhe a coroa. O bolo de natas tinha uma fala atrapalhada, por causa do excesso de natas.
— Flá, plefe, pflu, pfló..
Não se percebia nada.
O bolo-rei, muito irritado, ordenou o mesmo ao bolo de amêndoa, que lhe respondeu:
— Também a mim me caiu uma amêndoa torrada e não me queixo.
O bolo-rei, cada vez mais exasperado, deu a mesma ordem a um pudim de gelatina, mas o pudim de gelatina era muito frágil, muito nervoso e só tremeu, tremeu, incapaz de dizer ou fazer o que quer que fosse.
— São uns rebeldes estes meus súbditos — concluiu, numa grande exaltação, o bolo-rei. — Condeno-os a que sejam todos cortados às fatias.
E assim aconteceu. Mas nem o bolo-rei escapou.

António Torrado

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