Lembro-me bem da imagem do meu amigo Jordi, catalão, gay, ecologista, germanófilo e lusófono, enquanto íamos pelas Ramblas acima, a caminho da Universidade ou do mercado La Boqueria e das nossas infindáveis conversas sobre a catalanidade e o Portugal tão longe e tão perto e por aí fora, Casc Antic e Raval dentro.
Parávamos num dos quiosques. Eu comprava o El País e ele o Avui. Logo a seguir, mal lhe deitando uma vista de olhos pela página principal, lançava-o no caixote de lixo mais próximo e dizia invariavelmente: “Este jornal é uma merda! Nem leio.” E quando, um dia, lhe pergunto por que o comprava então, ele esclarece: “É a minha militância. A minha única militância.”
Ao que eu: “E não queres dar uma vista de olhos no El País? Ou que eu te diga se há alguma coisa de importante?”
“Não, nunca há. Desde a transição para a democracia que não há notícias. Desde a morte de Franco que não há novidades da fronteira portuguesa para cá. Compro o Avui só para ajudar nas estatísticas de vendas de jornais em catalão.”
Também com o Jordi fui ao festival de teatro de Tàrrega, num Agosto de riadas, chuvadas severas e sol impiedoso típicos do mediterrâneo, pelo menos, daquele mediterrâneo. E estávamos nós numa praça onde havia grande animação, quando vejo o meu amigo a rir e a apontar para o nome da praça. Era a Plaça dels Països Catalans. Até ele se ria do exagero. Os Països Catalans são pomposamente apresentados pelos nacionalistas catalães com o largo espectro territorial que abrange a Comunidade Autónoma da Catalunha, a Comunidade Valenciana (onde se fala muito pouco valenciano), as Baleares, a denominada Faixa de Aragão (Franja d’Aragó, zona oriental de Aragão), o Rossellón francês, Andorra e a cidade italiana de Alger (na Sardenha) onde se fala um dialecto do catalão com origem na ocupação catalã nos finais da Idade Média, embora 80% da população tenha o italiano como primeira língua.
Estes os países catalães.
Não comento. Limito-me a enumerar. E a assinalar que o Jordi ria.
Nos países catalães há subcapítulos como o dos espais gallecs.
E foi da Galiza que trouxe também um outro mapa da dissidência linguístico-política. A dos países celtas: Alba, Eire, Mannin, Cymru, Kernow, Breizh, Galiza e Asturies. Traduzindo: Escócia, Irlanda, Ilha de Mann, País de Gales, Cornualha, Bretanha, Galiza e Astúrias. É fácil: todas as terras onde apareçam druidas ao virar da esquina.
Nós, portugueses monolíticos, monolingues e todos vestidos de azul marinho e preto, é que julgamos que as fronteiras são as que vêm nos mapas.
Uma coisa é certa. A Espanha não existe. Sei-o porque vivi lá.
Parávamos num dos quiosques. Eu comprava o El País e ele o Avui. Logo a seguir, mal lhe deitando uma vista de olhos pela página principal, lançava-o no caixote de lixo mais próximo e dizia invariavelmente: “Este jornal é uma merda! Nem leio.” E quando, um dia, lhe pergunto por que o comprava então, ele esclarece: “É a minha militância. A minha única militância.”
Ao que eu: “E não queres dar uma vista de olhos no El País? Ou que eu te diga se há alguma coisa de importante?”
“Não, nunca há. Desde a transição para a democracia que não há notícias. Desde a morte de Franco que não há novidades da fronteira portuguesa para cá. Compro o Avui só para ajudar nas estatísticas de vendas de jornais em catalão.”
Também com o Jordi fui ao festival de teatro de Tàrrega, num Agosto de riadas, chuvadas severas e sol impiedoso típicos do mediterrâneo, pelo menos, daquele mediterrâneo. E estávamos nós numa praça onde havia grande animação, quando vejo o meu amigo a rir e a apontar para o nome da praça. Era a Plaça dels Països Catalans. Até ele se ria do exagero. Os Països Catalans são pomposamente apresentados pelos nacionalistas catalães com o largo espectro territorial que abrange a Comunidade Autónoma da Catalunha, a Comunidade Valenciana (onde se fala muito pouco valenciano), as Baleares, a denominada Faixa de Aragão (Franja d’Aragó, zona oriental de Aragão), o Rossellón francês, Andorra e a cidade italiana de Alger (na Sardenha) onde se fala um dialecto do catalão com origem na ocupação catalã nos finais da Idade Média, embora 80% da população tenha o italiano como primeira língua.
Estes os países catalães.
Não comento. Limito-me a enumerar. E a assinalar que o Jordi ria.
Nos países catalães há subcapítulos como o dos espais gallecs.
E foi da Galiza que trouxe também um outro mapa da dissidência linguístico-política. A dos países celtas: Alba, Eire, Mannin, Cymru, Kernow, Breizh, Galiza e Asturies. Traduzindo: Escócia, Irlanda, Ilha de Mann, País de Gales, Cornualha, Bretanha, Galiza e Astúrias. É fácil: todas as terras onde apareçam druidas ao virar da esquina.
Nós, portugueses monolíticos, monolingues e todos vestidos de azul marinho e preto, é que julgamos que as fronteiras são as que vêm nos mapas.
Uma coisa é certa. A Espanha não existe. Sei-o porque vivi lá.
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