2 de junho de 2010

le grand robert


Rato de rua
Irrequieta criatura
Tribo em frenética proliferação
Lúbrico, libidinoso transeunte
Boca de estômago
Atrás do seu quinhão

Vão aos magotes
A dar com um pau
Levando o terror
Do parking ao living
Do shopping center ao léu
Do cano de esgoto
Pro topo do arranha-céu

Rato de rua
Aborígene do lodo
Fuça gelada
Couraça de sabão
Quase risonho
Profanador de tumba
Sobrevivente
À chacina e à lei do cão

Saqueador da metrópole
Tenaz roedor
De toda esperança
Estuporador da ilusão
Ó meu semelhante
Filho de Deus, meu irmão

Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato

Saqueador da metrópole
Tenaz roedor
De toda esperança
Estuporador da ilusão
Ó meu semelhante
Filho de Deus, meu irmão

1 comentário:

henedina disse...

"O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia."
Apesar de ser tímida e não dizer bem o r falo em público com aparente avontade por causa, ou sobretudo, por causa desta lengalenga parecida com parte da canção do Chico. Quando era criança quase só a minha irmã me entendia. As pessoas, até cerca dos 5 anos diziam, a gozar, diz isso. Habituei-me a faze-lo não acentuando o r, e assim passei entre "as gotas da chuva". Aprendi a ser forte. A não ter medo da novidade nem do obstáculo. Fazer das minhas fraquezas, forças.
"O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia." Não gosto de ratos. Mas houve um, tenho que admiti-lo, que foi um amigo. Aprendi o r a dize-lo suave, rATO.

Um comentário longo e pessoal a recompensar, espero, quem postou.