15 de agosto de 2011

BAD TIMING


Gustave Courbet, La vague, 1872

Ele tinha uma mãe, mas não tinha mãe apesar do “mãe há só uma”. No seu caso era aquela que ele sempre conhecera, mas de quem não conseguia gostar sem qualquer razão objectiva para tal embirração. Sentia-se culpado por não gostar daquela mulher a quem sempre tinha chamado mãe.

Um dia, pelos 15, 16 anos, descobriu a verdade por desconfianças tenazes e perguntas tímidas. Não foi preciso muito para que lhe reconstituíssem todo o filme da sua vida, visto agora ao contrário e com outras lentes que ele desconhecera até então.

Foram precisas duas ou três perguntas para ver o seu destino alterado. (O que é que isto vos lembra?) Depois, foram precisos dois longos anos de gaguejos assustados e solitários para recuperar do choque e decidir-se finalmente a saber mais. Quando, após muitas voltas interiores, começou a investigar onde estaria essa mãe desconhecida, descobriu que ela morrera no ano anterior numa aldeia das vizinhanças.


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