20 de novembro de 2011

Pansexuais, mais um esforço se quereis ser qualquer coisa! (ou trends sexuais de Marx a Marcuse)



Uma noite destas apercebi-me que há uma série sobre lésbicas escocesas.

Primeiro comentei isso com pessoas que sabem Língua Gestual Portuguesa e que me disseram logo que o gesto para lésbica não é muito bonito. Para escocês, vá-se lá saber porquê, ainda é pior. Os dois juntos... bom, é melhor nem explicar.

Depois perguntei a um amigo gay e muito dado aos estudos celtas (variante celtibero) se o grau de especificação, quero dizer, de sexualidade e nacionalismo, já ia assim tão no adro.

Ele esclareceu logo: “Fica sabendo que o que verdadeiramente está a dar são os intersexuais bretões!”

Fui então aprofundar a coisa (ou seja, dei uma olhadela nos estudos aleatórios da wikipédia) e verifiquei que há uma escala de Benjamin — não o Walter, mas o Harry, embora também não fosse má ideia estabelecer uma escala de dependência e de orientação do Walter. Não, aqui trata-se do Dr. Harry Benjamin que criou uma escala de orientação sexual (a Harry Benjamin Sexual Orientation Scale — S.O.S., imaginem!) nos anos 60, na sequência dos estudos do célebre e hollywoodado Alfred Kinsey. O Dr. Benjamin começou por estudar a tuberculose e acabou oximoricamente como pioneiro na investigação sobre a transsexualidade, o que representa um verdadeiro reviralho clínico. A escala que propôs vai de 1 a 6, ou seja, do pseudo travesti (uma espécie de Ed Wood agarrado ao seu gilezinho de angorá) ao transexual de alta intensidade (ficamos logo a pensar em postes de alta tensão implantados ao lado de aldeias indefesas).

O que me intriga na escala, quero dizer, o que mais me intriga, são os graus intermédios: como é costume, o termo médio (e nédio) é sempre o mais problemático. Calculem vocês (estou mesmo a ver-vos agarrados à calculadora sexual numa manhã de domingo) que o grau 4 reza (é uma forma de dizer) assim: “predominantemente homossexual, mas mais do que incidentalmente heterossexual” enquanto o grau 5 se destina a quem é “predominantemente homossexual, mas incidentalmente heterossexual”. Quem ficar ali entalado entre o “mais do que” e o grau zero da comparação está feito ao bife (ao bife?! – que digo eu?! e se for “predominantemente” vegetariano e só “incidentalmente”, sei lá - no natal e em sextas feiras 13, homnívoro, digo, omnívoro? ou mesmo mnívoro?).

Estas subtilezas deixaram-me ontologicamente encalacrada e sexualmente de queixo caído (interpretem como quiserem). Em suma, é muito dasein prá minha carruagem...

Moral da história ou conclusões preliminares (como dizia um que eu cá sei):


1) Títulos como Masculino/Feminino de Jean-Luc Godard são, como suspeitava, da Vieille Garde.

2) Depois das lésbicas escocesas e dos intersexuais bretões, ficarei melancolicamente à espera de uma série, um colóquio ou, melhor ainda, de uma visita de metrossexuais assírios.


Mas, pra dizer a verdade, já me contentava com eletrodomésticos que não avariem...

10 comentários:

alexandra g. disse...

O António Guerreiro cedeu umas senhas para mencionar o Dr. Benjamin?

rosa disse...

eu não pedi licença, vamos lá ver se não tenho aqui um psiquopró... posso sempre dizer que são umas senhazitas de racionamento.

Anónimo disse...

e em escala estão os intersexuais bretões? E os irlandeses? Eos espanhóis?
tb já vi a série.Mas continuo sem perceber essa dos intersexuais...
Isabel Sofia.
Em compensação (?), o gesto da LGP para gay é bonito, elegante e inofensivo.

alexandra g. disse...

Eu contentava-me com um Accent que não avariasse dois dias depois de chegar da oficina. Apre.

Se encontrar umas senhas vendo-as no blogue. Olarilas.

alexandra g. disse...

Sem querer, descobri que o Anthony, ou Antony, embora Bourdain, que conheci através deste blogue de referência, gosta mesmo é de carne de porco e marisco, preferencialmente em «lugares duvidosos».

Não sei se foi da camisa de xadrez que o homem não larga nas fotos e me remete à birra que fiz aos 5 anos com um vestido axadrezado demasiado curto para os meus princípios e que tinha uma gravatinha miserável anexada à gola, fiquei com vontade de lhe pregar um estalo logo ali na fotografia que exalava um Alentejo demasiado másculo para a paciência de qualquer mulher que tenha gramado com a Belinda Carlisle pela adolescência fora.

rosa disse...

o bourdain em xadrês?! nunca vi. quase sempre em tshirt ou camisa. eu vejo (quando posso) os programas dele. sim, os sítios são frequentemente nojentos, as paragens duvidosas, o que é bom para variar das cozinhas frígidas a aceradas das olimpíadas culinárias.

quanto à belinda, meu deus!, nem me lembrava eu dessa praga! passou-me ao lado. nem conhecia pessoas que ouvissem tal música. ou melhor, conhecia, mas fazia de conta que não existiam.

alexandra g. disse...

ora bolas, ou xadrez whatever, falava de memórias; embora pensando, até que.

alexandra g. disse...

quer dizer, nem pensando vou lá.

para gajos em muito-giro-carregado-de-experiência-musculado-e-inteligente-além-de-fantástico-a-cozinhar-marisco, Rosa, já tive um pai.

o mundo há-de ter maior vastidão, ou não?

alexandra g. disse...

eu sei que parece mal tanto comentário seguido, mas cumpre-me afinar uma ou outra aresta, que isto assim era mau demais, pior que o Bourdain (António, modo de dizer, comme papa):

- o meu pai, que eu, a minha irmã, os meus dois irmãos e a terra o tenhamos, foi um tipo absolutamente low-profile, como se diz, de muito siso (demasiado, escangalhando-se quase só com desenhos animados, a que assistia como um puto, ou no desvelo de quando adoecíamos)
- fora isso, tinha um feitio do caralho (que eu, a minha irmã e o irmão mais novo herdámos).

era só isto, mil desculpas pelo francês.

alexandra g. disse...

cadê el post do ano oh novo?
(isto já não é um comentário)