23 de maio de 2009

Tecnonaba I



Sou uma tecnonaba.
Assumo, como agora se diz. E como assumo, estou perdoada, como agora se faz.
Assumo, logo esqueço.
Mas eu não esqueço. Nem que quisesse não poderia esquecer, porque a tecnonabice me complica imenso a vida. Todos os dias.
O conceito de tecnonabo está explicado num dos últimos livros de Miguel Esteves Cardoso, creio que no “A Minha Andorinha”. Quando li o artigo, todo muito bem explicadinho como é habitual no MEC, a pensar nos moços e moças dos 7 aos 77, adoptei logo o epíteto, o cognome, a aptidão. Passou a ser uma das minhas competências, como agora se diz e se exige. Neste caso a competência da minha incompetência. Enfim, fiquei mais contente por já ter um nome para a síndrome de que padeço (sim, síndrome ou sindroma são femininos – posso ser tecnonaba, mas tento não dar erros de português, o que não é fácil, diga-se).


E vem isto ao dance floor por causa do que me aconteceu esta semana.
Num destes serões da província estive eu a responder a várias pessoas no facebook. Para já, desconfio que isto não é assim. Não se responde no facebook como quem “deve” uma carta ou até um mail. Está-se ali e logo se vê quem está on line e pia primeiro.
Bom, mas eu estive talvez umas três ou quatro horas na conversa, ou melhor, no teclanço e, no final, só tinha comentários a dizer que não se percebia nada do que eu estava dizer, ou que só viam duas ou três frases, quando eu tinha escrito umas esforçadas duas ou três páginas de texto! Fiquei siderada com a injustiça! Como se não bastasse, já durante o “processo” da conversa, quando eu me entusiasmava mais, acabava o espaço disponível para escrever! Vamos nós lançados e eis que de repente ficamos desguarnecidos de material, como se tivéssemos que sobreviver com uma ração de combate na Jamba ou regatear senhas de racionamento na Segunda Guerra Mundial! Assim não, catano!...
Eu devia ter desconfiado quando comecei a ver alunos meus muitos entusiasmados com o facebook e, sobretudo com o twiter – houve uma despachada, uma “lista” como dizem os espanhóis, que até me disse que basicamente vivia no e para o twiter e que os trabalhos de “investigação” dela são todos feitos sobre e no twiter. Podem imaginar o grau de investigação que ali vai... Ainda lhe disse: “Mas isso dá para escrever mais do que uma lista de compras para uma família monoparental?” Ao que ela me lançou um olhar fulminante de quem está perante um fenómeno do entroncamento da tecnonabice e da tecnoignorância, atirando um gélido “Até a Presidência da República já aderiu!...”
Calei-me e lá lhe dei uma nota inflacionada não fosse a intimidade dela com o Professor Cavaco vir a trazer-me chatices. Devem ter em comum a leitura da Utopia.
À luz do twiter, é bom de ver. Aliás, na Utopia o twiter já está previsto. E, claro que só posso vergar-me a quem, como eu, gosta de Thomas Mann...


Bom, mas estou a afastar-me do que me aconteceu esta semana. Não vos vou maçar com os quiproquós da minha conversa desencontrada com vários amigos nesse serão. Só vos digo que metia temas tão esotéricos como cartuchos (aqueles que se punham a tocar com três ou quatro músicas nos bons carros, bons à dimensão portuguesa, como toyotas celicas e assim, nos anos 70), cartuchos, dizia, tabopan, o terrível álbum “crime of the century” dos supertramp e buracos negros. As pessoas, no final, diziam-me que não percebiam bem onde eu queria chegar. Ainda ontem um amigo mo repetiu de viva voz. Ora eu não ando a tomar drogas que não sejam receitadas pelo médico, não tinha bebido e estava a falar com pessoas mais inteligentes do que a média (basta serem meus amigos) e com as quais não costumo ter dificuldades de comunicação.
Só podia ser do facebook.
Ou do meu síndrome de tecnonabice.

E era dos dois, conclui.
Mas agora não vos posso contar, pois tenho um jantar de anos. Mais um! Somos tantos os nascidos em Maio: isto é que é produzir em Agosto!

Mas, como diria o governador da Califórnia, “I’ll be back!”

1 comentário:

Filipa Júlio disse...

Rosa, três ou quatro horas em conversas no fakebooc soa mais a tecnonababo do que tecnonabo.