29 de julho de 2009

— diz lexia. — lexia.


a deus, até ao meu ingresso.
brigada dos regadores das plantas, por favor não façam sopa das turtugas.

22 de julho de 2009

Nossa Senhora da Assunção II



O segundo atirador na morte do Kennedy?
Fui eu!

Agora já posso dizer porque o crime já prescreveu.

Por esta é que tu não esperavas, ó Costner-chato-d'uma-figa!

Nossa Senhora da Assunção I



Sabem que mais?
Eu é que sou o pai dos filhos de Michael Jackson!
E ainda direi mais: sou o pai e a mãe.

Também sou o Presidente da Junta.

21 de julho de 2009

Aux larmes citoyens



Não há como corrigir exames para ter epifanias impróprias para cardíacos.
Verifico que andei toda a vida a ler a História de forma rasurada. Em todos os livros faltava o final de uma frase decisiva. É uma jovem de 20 anos que me explica que a Revolução Francesa defendia a igualdade de todos os homens... perante Deus.
Afinal não foi Cristo, foi Robespierre.

20 de julho de 2009

Tudo o que não discutimos

Quando o conheci, era o Costa Afonso, sempre a piscar o olho ao espelho do Afonso Costa e arrastando ainda a aura juvenil de Deus Afonso que, dizia ele, lhe vinha do Liceu Camões. Eu tinha 18 anos e ele 26, diferença gigante para a idade e para a época, pouco importante, porque foi sempre um garoto até à auto-atribuída pré-reforma.

Anunciaram-me a sua chegada três dias antes, como estando mesmo, mesmo aí a rebentar. Perguntava eu ao amigo comum F. A. R.: “Mas afinal quando é que chega esse famigerado agitador?” E o F. A. R., do alto da sua barbicha de sátiro, com voz de trovão clandestino: “A qualquer momento, a qualquer momento... O Costinha pode sempre chegar a qualquer momento. Está aqui já no Boulevard Jourdan, a avançar implacável como um morteiro ideológico!”

Estávamos em Paris em 1977 e o Tozé (como passei a chamar-lhe nos anos 80) levava três dias a percorrer uma rua, parando em cada casa conhecida e detendo-se a farejar as possibilidades das não conhecidas em mini-comícios e raids de agit-prop onde podia e calhava.

Pouco depois de ele finalmente aparecer, já estávamos a conversar pela noite dentro (as célebres conversas das 5 da manhã, que levam a lado nenhum ou a resoluções tão, tão urgentes e devastadoras que ficam adiadas sine die), formámos o comité de clandestinos de casa André de Gouveia, colando folhas A4 nas paredes a denunciar o mau funcionamento do aquecimento, a arrogância do director que não nos cumprimentava com a deferência a que nós achávamos ter direito e espalhávamos pelos corredores notícias geralmente um pouco exageradas de quem tinha dormido ou andava a tentar dormir com quem. Com esta actividade desgastante, acrescida ao debate de jornais (mais discutidos do que lidos) e à contínua procura de tudo o que nos pusesse a par do avanço da teoria (era A Teoria, como dizíamos), invariavelmente, às 2 da manhã dava-nos a fome e íamos então às cozinhas colectivas usar os alimentos dos outros para grandes pratadas de esparguete com o que havia. Algum residente aplicado que viesse à cozinha durante a noite em busca do calmante copo de leite tardio, acabava com frequência sentado à mesa em debates frenéticos até de madrugada, não sem ter sido convidado para comer os seus próprios produtos como viria a constatar no vazio dos armários no dia seguinte. Mas ninguém se zangava porque tinha sido boa noitada, boa conversa e boa esparguetada.

Começámos aí uma longa e agitada amizade de 33 anos, por vezes interrompida pelas ausências e suspensões um do outro. Foi meu cunhado durante 5 anos e assistiu e determinou muitos dos meus passos e decisões de vida. Partilhámos casas, viagens, assistimos a mortes, partidas, revelações, nascimentos, traições e desencontros, ao que se pode assistir de perto e de longe durante 33 anos em caminhos cruzados e paralelos.

Há poucos dias, recebi um telefonema confuso e triste a dizer que o Tozé tinha chegado ao fim da linha.

Fui à capela dos Jerónimos e estava uma pequena multidão. Havia mais dois mortos numa cave sufocante e apinhada. Aos poucos percebemos quem velava quem. As histórias misturavam-se e os grupos confundiam-se. Todos aqueles com quem falei se lembravam bem de como o tinham conhecido. Fora num dia que trazia uma história agarrada e particular para cada um de nós. A Amélia lembrava-se de que estava um dia no café Pão de Açúcar, na Guerra Junqueiro, e de repente viu um rapaz com ar de reguila saltar para cima de uma mesa e gritar de braços no ar: “As famílias só servem para defender o pito das meninas!”

Em 1969 isto era uma dura verdade. E a Amélia ficou logo ali ligada àquele catraio que, a brincar, a deixara a pensar numa coisa séria.

Agora estava ali transformado em estátua, suspenso na eternidade à espera de vez para voltar a falar.

Aparentemente, não fez nada. Não teve profissão, para além de umas incursões catastróficas nos mundos académico e no dos negócios, não publicou o livro insistentemente proclamado como um meteoro literário e que muitos lemos em fotocópias espalhadas por vários continentes. Mas não deixou ninguém indiferente e não teve um dia de descanso. E fez a Mafalda que fez a Olívia. Era, como ele próprio dizia, um técnico de idéias gerais. Ficaram muitas por debater e esmiuçar.

Dele se poderia dizer o que Nietzsche dizia de si próprio: “Eu não sou um homem, sou dinamite!”

Agora está ali no canteiro numero 3144 no cimo da Calçada do Galvão, depois da Igreja, que muito a propósito se chama, da Memória.

Ali está aquele que se apresentava como “euro-esquerdista liberal, psicótico e libertino.”

Entretanto, as meninas defendem ou oferecem o pito a quem lhes interessa, como entendem ou a quem o trabalha. Esperemos que sim.

12 de julho de 2009

o buick das terças feiras

"falhávamos redondamente nas relações amorosas, mas como bebíamos, fumávamos e dávamos nas vistas, julgávamos empurrar o mal estar para o vestíbulo."
era, sem dúvida, uma réplica esdrúxula.



Ninguém mo disse (ai de quem!), mas eu reconheço que têm razão: há qualquer coisa que não está a funcionar em mim. Assim não pode ser.
Volto quando tiver feito uma diálise mental.
Vou esticar-me nas espreguiçadeiras do tejadilho da Fortnum & Mason e esperar que o assam superb bata.
E os loly pop gigantes, hein?

11 de julho de 2009

Viva a Semana do Aleitamento Materno

O post anterior era para aquecimento.
O que verdadeiramente vos queria dizer foi a última coisa que vi ontem e uma das primeiras de hoje.
Ontem, ao zappar e ao zarpar para o leito, apanhei uns farrapos do célebre Living with Michael Jackson, documentário/entrevista de 2003 do jornalista britânico Martin Bashir apontado como tão implacável que tem sido acusado de ter matado o cantor.
Já não me lembrava da passagem que revi ontem e com ela me calo sobre essa estranha forma de vida.
Depois de vermos o cantor comprar 80% do conteúdo de uma loja de mobiliário e de objectos de decoração, qual deles o mais provocador de pesadelos até à quinta geração, Martin Bashin consegue que Jackson fale sobre o nascimento dos filhos. E é aterrador o que ele diz. Quando nasceu o primeiro, Prince, esteve cinco horas à espera que lho devolvessem, depois de ter assistido ao parto, porque a criança tinha a cabeça muito grande e esteve sob observação e sujeita a exames médicos. Finda a espera, ele, pai, pegou no bebé e levou-o para casa. Assim, bora lá que se faz tarde e o resto não interessa nada.
Quando nasceu o segundo, Paris, a menina, Jackson cortou o cordão umbilical e saiu de imediato para casa com a placenta ainda a envolvê-la! Nem no curral de Belém, se devem ter desrespeitado tantas regras de saúde pública! Diz MJ, perante o espanto de Bashir, que fez tudo isto com a permissão dos médicos e com plena concordância da mãe, Debbie, porque todos sabiam que ele estava muito impaciente. Confirma que a mãe ficou no hospital e quando questionado sobre o assunto, responde impávido que “não sabe tecnicamente quanto tempo a mãe viu a filha depois de nascer!” Tecnicamente não sabe. Tecnicamente este homem casou com uma incubadora – o que também não é único no mundo.
Tecnicamente as crianças em Los Angeles estão menos protegidas do que na nossas maternidades mais decrépitas.

Curiosamente, vejo de manhã no caminho para o trabalho, junto ao meu centro de saúde, um outdoor anunciando a Semana do Aleitamento Materno. E pensei: ora aí está algo tão básico e que, no entanto, os filhos de Michael Jackson desconhecem. Além de serem pendurados à janela e só saírem à rua de máscara, não tiveram direito à maminha da mamã. Agora, só se se inscreverem como congressistas na Semana do Aleitamento Materno. E só para sessões teóricas. Mesmo para as teórico-práticas, suponho que seja tarde demais.

Donde se vê que o nosso Serviço Nacional de Saúde bate aos pontos MJ e toda a sua fortuna paranóica.
O meu filho tem razão: ele já estava mais parecido com o Tutankamon do que ele mesmo julgava.
E repararam que a filha, Paris, já pode tirar os véus agora que o pai morreu?
Mas isso acontece a muitos mais por esse mundo fora. E nas melhores famílias.

Era só isto que eu queria dizer:
— devemos estimar o nosso Serviço Nacional de Saúde;
— Michael Jackson era incompatível com o SNS. Com o nosso ou com qualquer um outro.

Já sei que esta estação é parva.
Es lo que hay.

10 de julho de 2009

fenomenologia do absentismo

Por estranho que pareça, eu não morri.
Por estranho, porque tenho estado entalada entre a distribuição de serviço que se complica dia a dia, a crise, a gripe A e os novos estatutos.
Por segundos, fiquei hesitante ao ter que completar a frase. Novos estatutos de quê? Como sempre que o alzheimer espreita, para disfarçar e ganhar tempo, saltei logo para o guguel e jorraram novos estatutos para todos os gostos: novos estatutos da PSP, da ICP-ANACOM, da Universidade Técnica de Lisboa, da Universidade de Coimbra, da Faculdade do Oxímoro, ou seja, de Ciências Humanas e Sociais, e por aí adiante.
Bem sei que o sindicato me tem enviado todo o arrazoado sobre o assunto, mas eu é logo delete, delete — soa tão bem esta música, não é? parecem sininhos de portas de lojas antigas.
Já houve quem me repreendesse por tal demissão sindicalista, mas eu pergunto: então a gente paga as cotas do sindicato e ainda tem que ler aqueles textos chatíssimos, sem enredo nenhum e em mau português? Isso também é demais! Não é como o ginásio que se paga e está feito, depois não é preciso lá ir? Não tem o mesmo efeito? Ou é como o Tamiflu que para além de se não encontrar em lado nenhum, ainda assim precisa de receita médica?
Parece que agora que o país está a ficar sem estatuto algum, anda tudo a mudar de estatuto e, nalguns casos, como no meu e no dos meus colegas de profissão, estamos na encruzilhada de dois estatutos concomitantes que não sei se são adjacentes, se são intersectados, se sofrem a lei do à tangente ou a dos cossenos. Já agora a montante ou a jusante, para usar dois termos com que embirro particularmente, pois, para além de feiíssimos, deixam-nos desorientados sem percebermos de onde nasce o sol. Eu, se tenho que dar indicações de ressonâncias geográficas no meu discurso, digo invariavelmente ”quem entra à esquerda”. Raras vezes está certo, mas dá no mesmo que o "binómio" montante/jusante.

Portanto, tudo isto para dizer que estou viva, mas tenho andado numa fona.