A maior parte dos meus amigos segue, apoia e vai votar no Bloco de Esquerda. Eu não. Posso estar a preparar-me para votar em branco, o que me chateia solenemente, mas, quanto mais ouço o padre Louçã, mais segura estou de que dificilmente algum dia poderei votar no Bloco. Pelo menos, enquanto o Bloco for o que é: refúgio de estalinistas, maoístas, leninistas não reciclados, de gente que faria sentido ter sido tudo isto aos 20 anos e há 30 anos atrás, mas que verdadeiramente não mudou, ficando na sombra, numa espécie de limbo revolucionário e involuindo depois para a panela comum do Bloco, onde, os medíocres agarram o osso do discurso veemente e rápido de Louçã e os melhores lhe reconhecem a inteligência e lhe aplaudem a pretensa superioridade moral. Mas todos atrás do osso do Xico. O Xico é que é. Ora, o Xico parece-me um insuportável moralista em quem não consigo acreditar, mesmo quando está a defender causas com as quais até simpatizo ou que defendo convictamente. Ultimamente vê-se mesmo que anda a pregar na antecâmara da sacristia, preparando os paramentos para entrar solenemente no altar-mor.
A verdade é que não tenho pachorra para moralistas e começo logo a pensar noutras coisas quando os ouço perorar.
Há pouco dei uma volta pela net e verifiquei que há quem fale dos perigos da louçanização do BE.
Santa inocência! Como se isso fosse de agora...
Mas eu gosto é da fórmula “perigos da louçanização”. Faz-me lembrar uma cantiga d’ amigo de D. Dinis e, ao mesmo tempo, parece remeter para cuidados a ter com a louça sanitária especialmente refinada. Só não sei bem se a tendência é nacional como a das fábricas Valadares e Ceres, se é mais para o internacionalismo como a Roca.
Fiquemos com D. Dinis que também devia ser dado a grandes telhas, visto ter feito tudo quanto lhe dava na veneta.
Há pouco dei uma volta pela net e verifiquei que há quem fale dos perigos da louçanização do BE.
Santa inocência! Como se isso fosse de agora...
Mas eu gosto é da fórmula “perigos da louçanização”. Faz-me lembrar uma cantiga d’ amigo de D. Dinis e, ao mesmo tempo, parece remeter para cuidados a ter com a louça sanitária especialmente refinada. Só não sei bem se a tendência é nacional como a das fábricas Valadares e Ceres, se é mais para o internacionalismo como a Roca.
Fiquemos com D. Dinis que também devia ser dado a grandes telhas, visto ter feito tudo quanto lhe dava na veneta.
D. Dinis, CV. 172, CBN. 562
Levantou-ss' a velida,
Levantou-se alva,
E vai lavar camisas
Eno alto.
Vai-las lavar alva.
Levantou-ss' a louçana
Levantou-ss' alva,
E vai lavar delgadas
Eno alto.
Vai-las lavar alva.
(E) vai lavar camisas,
Levantou-ss' alva.
O vento lh'as desvia
Eno alto.
Vai-las lavar alva.
E vai lavar delgadas,
Levantou-ss' alva.
O vento lhas levava
Eno alto.
Vai-las lavar alva.
O vento lh'as desvia,
Levantou-ss' alva;
Meteu-ss' alva em ira
Eno alto.
Vai-las lavar alva.
Basicamente, é uma moça que tem um contratempo ao fazer a higiene matinal devido a uma mudança nas condições metereológicas.
Não desfazendo de D. Dinis que tinha mau feitio, mas era um grande poeta (e, pelo menos, não tinha consultório na Portagem), fico-me com o meu galego Mendinho que conseguiu a proeza de obter nomeação definitiva na História da Literatura com o magro curriculum de uma única cantiga, que, por sinal, nos fala também das más condições do tempo (agora que penso nisso, a poesia trovadoresca tinha grandes preocupações com a metereologia – isto era capaz de dar uma tese), dizia eu que a louçana do Mendinho se queixa do mau tempo na ermida de Sam Simon, na ria de Vigo (pudera!) e do namorado que nunca mais chega, o que constitui a segunda grande verdade eterna do texto e dos namorados.
Já que falámos em Louçã, louças e louçanas, a estatueta do frugal Mendinho é a única figura que tenho em louça de Sargadelos.
Não desfazendo de D. Dinis que tinha mau feitio, mas era um grande poeta (e, pelo menos, não tinha consultório na Portagem), fico-me com o meu galego Mendinho que conseguiu a proeza de obter nomeação definitiva na História da Literatura com o magro curriculum de uma única cantiga, que, por sinal, nos fala também das más condições do tempo (agora que penso nisso, a poesia trovadoresca tinha grandes preocupações com a metereologia – isto era capaz de dar uma tese), dizia eu que a louçana do Mendinho se queixa do mau tempo na ermida de Sam Simon, na ria de Vigo (pudera!) e do namorado que nunca mais chega, o que constitui a segunda grande verdade eterna do texto e dos namorados.
Já que falámos em Louçã, louças e louçanas, a estatueta do frugal Mendinho é a única figura que tenho em louça de Sargadelos.
7 comentários:
Como não ando agarrado ao osso nem lhe louvo a virtude concluo que não estou entre os medíocres nem entre os melhores dos teus amigos. Sempre pensei que era um médio amigo teu. Um médio amigo na panela comum. Uma beringela cujo sabor nem se distingue do comum das batatas.
a batata dá sono e a beringela deprime, mas gosto muito de qualquer delas. mais do tubérculo, graças à minha origem beirã.
quando falo dos medíocres e de melhores já não estou só a falar dos meus amigos, mas dos seguidores louçânicos em geral.
eu não tenho amigos medíocres. quando descambam, desaparecem, tragados pela terra. é a selecção natural, meu caro watson.
a anterior sou eu, rosa. não sei por que o blogger me censurou o nome.
Então eu estou a desaparecer, na melhor tradição vilamatasiana.
O anterior sou eu, o anónimo.
bloqueado, paralisado, ágrafo, trágico, toi?!
antes duplo, gémeo, reconjugado, polinizado, inalterado numa dispersão de esporos.
Quando li isto esqueci-me de comentar:
D. dinis foi o canto do Cisne... O mendiinho é muito melhor.
Isabel
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