13 de abril de 2010

contra-informação de referência


Ouço com frequência "Vinha no jornal de hoje, não viste?" e apetece-me responder com a verdade: "Não, não li. Não leio jornais todos os dias. Não se aprende grande coisa com os jornais. E mesmo quando leio, é sempre com moderação e às colheradas."
De facto, leio o jornal de hoje, amanhã e depois de amanhã e os de fim-de-semana, duas ou três semanas mais tarde. Deve ser por esse defeito de anacronismo que também não sei ler revistas. Na realidade, até acho que não tenho a noção de revista. Leio tudo como se fosse literatura ou ensaio, com sublinhados, pausa para reflectir, citações e este processo aplicado a jornais e revistas revela-se uma canseira e uma corrida inglória contra o tempo.
Por isso, senti um certo conforto quando no sábado, uma amiga, num raro momento de silêncio do jantar, lança a dúvida para a mesa: "Quem não tenho visto aparecer ultimamente é a Rainha-Mãe. Sabem se está doente?"
Ao que todos em coro: "A Rainha-Mãe morreu praí há três anos!..."

E garanto-vos que a amiga é das pessoas mais informadas que conheço.
Mas tinha saltado aquele capítulo e a Rainha-Mãe ficara-lhe suspensa no tempo, agarrada à sua capeline estival e à chávena de gin como um tónico essencial na taxidermia.


2 comentários:

mariantonia disse...

Acho muito bem. Não se aprende nada com os jornais. E numa altura destas, mais vale viver no século XIX. Amanhã já vou à BN ler o jornal do dia, mas o exemplar correspondente do século XIX.
Com essa merda dos jornais, nunca mais posso servir uma percazinha no forno cá em casa...

rosa disse...

quer a menina dizer a lesma nojenta do nilo.
mas isso é por sermos sensíveis e impressionáveis.
foi uma boa descrição do mec.
é como a última refeição de madame bovary. quem é que pode servir arsénico aos convidados depois de ter lido aquilo?
só que o adultério da perca é na peixaria. seja em yonville ou em bidonville.