estou nesta vida provisória sabendo que não há outra como o poeta
que vinha para a vida e deram-lhe dias
eu vinha para os dias e tive horas
odiava o tempo detergente
eu atropelo a mãe que vai de mota e a criança nascida das costas dela
salta contra o muro da minha prisão, esmaga o crânio
levanta-se atordoada como um filme do david lynch que é tarado
mas pelos vistos conhece bem a cabeça dos homens
se assim é fugirei deles porque temo sociopatas de celuloide
a criança esfrega o joelho e diz a chorar que o pé direito não mexe
sempre com o mesmo erro ortográfico agarrado ao pé
a criança já era feia antes de eu saber
vem de um bairro onde a mãe diz que se alojam famílias cadenciadas
o líquor escorre pela face
a pia-máter, a mais elegante das meninges, treme
como se um fungo extraterrestre a ameaçasse
de repente penso que posso ter um ataque de hipotermia ou de fotofobia
qualquer coisa que seja um pouco mais metafísica do que meninges
olhando para mim como lábios humanos
a mãe cambaleia arrastando a criança
e diz-me
“tinha posto um anúncio de «vendo porquinho-da-índia de pêlo raso»”
9 comentários:
Inesperado. A inicial citação o'neiliana da qual o poema se afasta pela violência , como se quisesse dizer que não estamos em terra conhecida, que aqui ninguém se fica a sorrir, que isto aqui não são jogos florais. Muito bom.
inesperado porquê?
a referência é ao ruy belo, again.
a formatação é da responsabilidade do blogger que é ilírico.
Ninguém me convence, já agora que ninguém me pergunta, que a poesia não se apresenta como prosa em segunda mão. Lindo serviço, respondo eu.
O tempo detergente, odeio este tempo detergente. Jurava q era O 'Neil
Gostei, Rosa! muiiiiiiiiito! AJ
não põe o peota marcas suas nos textos? Põe. mas de maneira sublime.
já nem digo parabéns...
Isabel Sofia
poeta!
Gostei do teu poema.
simplesmente, gostei
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