22 de outubro de 2011

e sobretudo não bebam moët et chandon de estômago vazio



estou nesta vida provisória sabendo que não há outra como o poeta

que vinha para a vida e deram-lhe dias

eu vinha para os dias e tive horas

odiava o tempo detergente

eu atropelo a mãe que vai de mota e a criança nascida das costas dela

salta contra o muro da minha prisão, esmaga o crânio

levanta-se atordoada como um filme do david lynch que é tarado

mas pelos vistos conhece bem a cabeça dos homens

se assim é fugirei deles porque temo sociopatas de celuloide


a criança esfrega o joelho e diz a chorar que o pé direito não mexe

sempre com o mesmo erro ortográfico agarrado ao pé


a criança já era feia antes de eu saber

vem de um bairro onde a mãe diz que se alojam famílias cadenciadas


o líquor escorre pela face

a pia-máter, a mais elegante das meninges, treme

como se um fungo extraterrestre a ameaçasse


de repente penso que posso ter um ataque de hipotermia ou de fotofobia

qualquer coisa que seja um pouco mais metafísica do que meninges

olhando para mim como lábios humanos


a mãe cambaleia arrastando a criança

e diz-me

“tinha posto um anúncio de «vendo porquinho-da-índia de pêlo raso»”

9 comentários:

Luís disse...

Inesperado. A inicial citação o'neiliana da qual o poema se afasta pela violência , como se quisesse dizer que não estamos em terra conhecida, que aqui ninguém se fica a sorrir, que isto aqui não são jogos florais. Muito bom.

rosa disse...

inesperado porquê?
a referência é ao ruy belo, again.
a formatação é da responsabilidade do blogger que é ilírico.

alexandra g. disse...

Ninguém me convence, já agora que ninguém me pergunta, que a poesia não se apresenta como prosa em segunda mão. Lindo serviço, respondo eu.

Luís disse...

O tempo detergente, odeio este tempo detergente. Jurava q era O 'Neil

Anónimo disse...

Gostei, Rosa! muiiiiiiiiito! AJ

Anónimo disse...

não põe o peota marcas suas nos textos? Põe. mas de maneira sublime.

já nem digo parabéns...

Isabel Sofia

Anónimo disse...

poeta!

Anónimo disse...

Gostei do teu poema.

cs disse...

simplesmente, gostei