27 de agosto de 2009

teoria da tradução


fantin-order-latour

Annus Mirabilis

Sexual intercourse began
In nineteen sixty-three
(Which was rather late for me) —
Between the end of the Chatterley ban
And the Beatles' first LP.

Up til then there'd only been
A sort of bargaining,
A wrangle for a ring,
A shame that started at sixteen
And spread to everything.

Then all at once the quarrel sank:
Everyone felt the same,
And every life became
A brilliant breaking of the bank,
A quite unlosable game.

So life was never better than
In nineteen sixty-three
(Which was rather late for me) —
Between the end of the Chatterley ban
And the Beatles' first LP.

Philip Larkin,
High Windows, 1967.

Annus mirabilis

Só começou a haver sexo
Em mil novecentos e sessenta e três
(Para mim, tarde de mais) —
Entre o fim do interdito
De Lady Chaterley's Lover
E o primeiro LP dos Beatles.

Até então, tinha sido
Uma espécie de regateio
Por uma aliança e um parceiro,
Vergonha que tinha início
Ao chegar aos dezasseis
E alastrava sem freio.

E de repente, acabou.
Sensações iguais p'ra todos,
E cada vida a tornar-se
Por igual, sem distinção,
A sorte grande, um jogo
De fortuna e sem azares.

Não há vida como após
Mil novecentos e sessenta e três
(Para mim, tarde de mais) —
Entre o fim do interdito
De Lady Chaterley's Lover
E o primeiro LP dos Beatles.

tradução de Rui Carvalho Homem, Cotovia, 2004.



Annus Mirabilis

Começou o acto sexual
Em mil nove e sessenta e três
(Tinha eu já perdido a vez) —
Quando Chatterley passou a ser legal
E saiu o primeiro dos Beatles LPs.

Antes disso uma só via era certa:
Discutia-se a parada
Com mira na aliança cobiçada,
Aos dezasseis a vergonha era desperta
E a tudo o mais alastrada.

De súbito a borrasca decaiu:
Toda a gente deu em ver
Que a vida afinal podia ser
O brilhante transbordar dum rio,
Um jogo onde não há que perder.

E a vida nunca foi tão especial
Como em mil nove e sessenta e três
(Tinha eu já perdido a vez) —
Quando Chatterley passou a ser legal
E saiu o primeiro dos Beatles LPs.

tradução de Maria Teresa Guerreiro, Fora do Texto, 1989.


Opinem. Traduzir poesia é um desafio hipnótico e discussão garantida.
Será útil lembrar a pragmática constatação de Larkin que, ao pensarmos nas traduções, se transforma em ironia: "não há muito a dizer acerca da minha obra. Uma vez lido um poema é isso mesmo, é completamnete claro o que quer dizer."
Como em muitos outros dos seus poemas, neste "Annus Mirabilis" tem-se a imediata percepção que, podendo embora não ser a nossa, estamos perante um texto que nos faz sentir (ou pressentir no lugar de um outro) aquilo que Larkin perseguia como "the picking of an experience".

2 comentários:

blue disse...

fazes perguntas destas e ninguém te responde.

só posso dizer-te que gosto mais da tradução do Rui Carvalho Homem.

na verdade, gosto mesmo mesmo é de ler original e de o imaginar dito pelo Ralph Fiennes, eheh.

Anónimo disse...

Talvez não se responda porque é difícil responder. Eu já vim aqui e reli a ver se me decidia. Também gosto mais da do Rui Carvalho Homem, mas é difícl ajuizar sobre o valor de uma tradução, especialmente se é poesia que se traduz.

Isabel